Vocacionamento hospitalar: Cuidados Continuados podem ser uma boa oportunidade para hospitais de pequeno porte
Márcio José Gobor - Palestrante |
Para discutir os modelos de atendimento e o papel das instituições nas demandas da Saúde, o 11º trouxe para o quarto painel do evento a coordenadora de Cuidados Continuados da Secretaria de Estado da Saude (Sesa), Schirley Follador, o diretor do Hospital Dona Darcy Vargas, Marcio José Gobor, e diretor da Casa de Saúde Dr. João Lima – CEGEN, Rangel da Silva.
Segundo Schirley Follador, os cuidados em Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) dividem-se em rede de atenção primária e rede de atenção hospitalar. Neste sentido, o principal objetivo da rede é vocacionar adequadamente as entidades para atender às necessidades da população. Para isso, é preciso fazer o diagnóstico da situação da região, levantamento de dados de saúde e doenças prevalentes, condições tecnológicas do hospital e localização estratégica, tudo pensando em ganhar eficiência na prestação do serviço e na manutenção financeira do sistema.
Com base nessas informações, a Secretaria de Estado da Saúde enxergou a necessidade de criar um novo modelo de atendimento focado nas pessoas que sofrem de doenças agudas ou crônicas e que, apesar de estarem clinicamente estáveis, ainda ocupavam leitos nos hospitais de alta complexidade. Segundo Schirley, essa necessidade surgiu porque muitos pacientes retornavam para suas casas sem condição de segurança ou, ainda, precisando de reabilitação. Além disso, a Sesa buscava dar retaguarda à rede de urgência e emergência e, ao mesmo tempo, identificou hospitais de pequeno e médio porte e baixa complexidade ociosos.
Foi aí que a Secretaria de Saúde chegou ao modelo de Cuidados Continuados Integrados (CCI), uma forma de dar um novo vocacionamento para esses hospitais ociosos e resolver as demandas da população. Para isso, foi publicada a Portaria 2809, de 07 de dezembro de 2012, que estabeleceu “a organização dos Cuidados Prolongados para retaguarda à rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) e às demais Redes Temáticas de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)”.
“Essa foi uma estratégia adotada de cuidado intermediário entre os cuidados hospitalares de caráter agudo e crônico reagudizado e a atenção básica, incluindo também a atenção domiciliar, prévia ao retorno do usuário ao domicílio. Os Cuidados Continuados Integrados destinam-se a usuários em situação clínica estável, que necessitem de reabilitação e/ou adaptação a sequelas decorrentes de processo clínico, cirúrgico ou traumatológico. O objetivo é trabalhar na recuperação clínica e funcional e fazer a avaliação e a reabilitação integral e intensiva da pessoa com perda transitória ou permanente de independência e algum grau de autonomia potencialmente recuperável, de forma parcial ou total, e que não necessite de cuidados hospitalares em estágio agudo”, explicou a coordenadora.
Experiência no Paraná
A primeira unidade de Cuidados Continuados Integrados foi o Hospital Dona Darcy Vargas, localizado no município de Rebouças, que faz parte da macrorregião leste da 4ª Regional de Saúde. Segundo Marcio José Gobor, diretor da instituição, o projeto da Sesa realmente vocacionou o hospital e, dessa forma, não foi preciso fechar as portas. Hoje, a entidade tem também, além da unidade de CCI, um pronto socorro, e recebe pacientes encaminhados dos grandes. O hospital conta com 52 leitos SUS e, deste total, 22 são para cuidados continuados. Além disso, oferta atualmente ambulatório de ortopedia, RX, eletrocardiograma e exames laboratoriais.
De acordo com Gobor, a portaria que habilitou o Hospital Dona Darcy Vargas junto ao Ministério da Saúde como uma unidade de CCI exigiu uma equipe multidisciplinar. Para isso, a instituição conta com fisioterapeuta, médico, fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro, técnico de enfermagem, assistente social e farmacêutica. Na avaliação do diretor, o novo vocacionamento acabou com a concorrência entre hospitais e deu lugar à parceria. Ele comenta, ainda, que o foco é no paciente e que cada um pode ficar até 90 dias na unidade. Desde que o espaço foi inaugurado, 49% dos pacientes que foram encaminhados ao Hospital Dona Darcy Vargas tiveram Acidente Vascular Cerebral (AVC).
“Muitos pacientes estão num hospital de alta complexidade, mas poderiam ser encaminhados para uma unidade de cuidados continuados. Isso vai dar economia para o município e o paciente vai se recuperar melhor. O projeto é totalmente novo. Cuidamos dele, auxiliamos a família a cuidar dele quando ele vai para casa. Houve uma revolução, o jeito de cuidar do paciente é diferente. Podemos perceber que estamos fazendo algo por ele e também pela família”, explicou.
Para o diretor, os leitos de cuidados continuados integrados são muito importantes para o Estado e para a população, porque oferecem aos pacientes um pós-atendimento 100% SUS e dão ao município de origem tempo e economia para receber novos pacientes em seus postos. Ele finalizou dizendo que a unidade instalada no hospital evitou o fechamento da instituição e, ao mesmo tempo, deu uma vocação e uma referência à entidade.
Em seguida, Rangel da Silva também contou a experiência da Casa de Saúde Dr. João Lima – CEGEN com os cuidados continuados integrados. Ele afirmou que o vocacionamento de uma instituição é um chamado à vida e à existência e também ajuda na manutenção do hospital.
“O perfil dos hospitais é generalista. Essa era a base de antigamente. Devido a algumas mudanças, como o padrão sócio demográfico, padrões de epidemiologia, os profissionais – que saíram de generalista para especialista -, os hospitais começaram a ficar com leitos ociosos e precisaram buscar sobrevivência. Por isso, foi preciso rever a vocação do hospital, também como uma forma de atender à demanda da população necessitada, criar novas expectativas positivas internas e externas e ajudar no equilíbrio econômico-financeiro da instituição”, destacou.
O CEGEN, hospital com 60 anos de história, atende todo o Estado,com forte atuação na atenção das 18ª e 19ª regionais. Por mês, são realizados três mil atendimentos por mês na entidade, que tem 80 leitos, sendo 56 leitos SUS e 24 não SUS. Silva conta que a Casa de Saúde sempre foi um hospital geral, com vocação para cuidados a pessoas idosas e pós-cirúrgico. “Mas queríamos melhorar algo no projeto de cuidados prolongados. Por isso, a Sesa, através de Paulo Almeida, apresentou o projeto de CCI”, explicou. Hoje, 70% do atendimento é voltado para cuidados continuados integrados de pessoas idosas e reabilitação.
Como funciona – o paciente que sofre uma fratura ou tem um AVC, por exemplo, é levado para um hospital de agudos. Depois, esse hospital de agudos encaminha para o CCI, que vai realizar um tratamento interdisciplinar por até 90 dias, com uma equipe que envolve médico geriatra, assistente social, dentista, enfermeiro, fisioterapeuta, farmacêutico, fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo e terapeuta ocupacional. O projeto de CCI foi implantado no CEGEN em agosto de 2017. Até janeiro de 2018, o hospital já havia internado 72 pacientes.
“Esse projeto tem uma grande questão social. Antes, nos cuidados prolongados, tratávamos pessoas mais idosas. Este era o principal perfil. Porém, hoje, estamos encontrando perfil de pessoas muito jovens. Nosso objetivo é sempre reabilitar”, concluiu.
Próximos passos
Segundo Schirley Follador, a Secretaria de Estado da Saúde está trabalhando em um novo serviço de cuidados continuados integrados em Astorga. Além disso, ela garante que outros dois hospitais fizeram a solicitação para receber unidade de CCI, e os processos estão sendo analisados. O objetivo da Sesa é que haja um serviço de cuidados continuados em cada uma das regionais. Por isso, a coordenadora reforçou que as solicitações estão abertas para os hospitais interessados.
Foto: Pedro Vieira
Texto: Femipa